Em regiões de mata e áreas rurais, o comportamento dos veados muda drasticamente em determinadas épocas do ano. É quando se diz que começou a “lua de veado”, expressão popular que descreve o período de cio desses animais, marcado por agitação, coragem repentina e impulsos quase incontroláveis. A mudança é perceptível: veados machos, normalmente discretos e ariscos, passam a se arriscar mais, invadem territórios alheios, enfrentam rivais e até se aproximam de zonas habitadas em busca de fêmeas para reprodução.
Biologicamente, o fenômeno ocorre com maior frequência entre o final da seca e o início da estação chuvosa, quando há maior disponibilidade de alimento e melhores condições para a criação dos filhotes. Durante esse período, os machos podem percorrer grandes distâncias, deixam rastros, emitem sons fortes e até enfrentam outros machos em duelos silenciosos e velozes. A mudança de comportamento também os torna mais vulneráveis à caça e ao atropelamento em rodovias que cortam áreas de floresta.
O termo “lua de veado” atravessou a linguagem técnica da biologia e ganhou força no imaginário popular, principalmente em comunidades interioranas. Passou a ser usado para descrever pessoas que parecem “fora de si” por impulso, paixão ou coragem desmedida. Em muitas conversas informais, é comum ouvir: “Fulano tá na lua de viado”, para indicar alguém tomado por um estado emocional descontrolado, quase animal. Em regiões do Norte e do Centro-Oeste do Brasil, o termo carrega também um tom de respeito. Moradores antigos veem o período como um momento de alerta na mata. Caçadores evitam certas áreas, motoristas que cruzam regiões silvestres redobram a atenção nas estradas, e há até quem acredite que o período atrai outros tipos de “energia” para a floresta.
A “lua de viado” é um exemplo de como a natureza influencia diretamente o comportamento humano e a cultura popular, servindo como metáfora poderosa para estados intensos da vida, quando o instinto fala mais alto que a razão.
