A prefeitura de Canaã dos Carajás vai gastar R$ 475.500,06 com a contratação de um espetáculo circense para o 4º Festival Junino “Canaã Cidade Junina 2025”. O contrato prevê 18 dias consecutivos de apresentações, com atrações que incluem “Globo da Morte”, “Jurassic Park”, “Transformers”, “Homem-Aranha” e estrutura temática para receber até 800 pessoas por noite. A média de custo diário é de R$ 26 mil por sessão.
O investimento em entretenimento contrasta com a realidade enfrentada por moradores da cidade, que denunciam há meses ruas esburacadas, falta de água nas torneiras, alagamentos, falta de iluminação pública e abandono em bairros periféricos. “Aqui a gente pisa no barro todos os dias, ver carros e ônibus atolados, a Prefeita devia vir brincar de palhaço na nossa rua”, ironiza Dona Maria das Dores, moradora do bairro Vale dos Sonhos III.
A cidade ainda enfrenta um momento crítico: investigações apontam desvios que podem ultrapassar R$ 1,5 bilhão em contratos públicos, incluindo obras, licitações e favorecimentos políticos. O escândalo, considerado o maior da história do município, está sendo investigado por órgãos estaduais e federais.
A licitação exige da empresa contratada uma programação circense de alto nível técnico e visual, com artistas especializados, personagens de apelo popular, hall temático e praça de alimentação.
Moradores e lideranças da cidade veem com desconfiança o investimento em meio à crise. “As crianças precisam de creche, o povo precisa de rua asfaltada. Não de dinossauro de mentira e Homem-Aranha pulando no picadeiro”, diz Renato, 38, morador do bairro Ouro Preto.
Enquanto o circo é montado com luzes, fumaça e ilusionismo, a população segue tropeçando nos buracos da cidade. Sem truques. Sem mágica. Sem espetáculo.
