A dona de casa Maria Tereza, de 52 anos, finalmente se livrou, nesta quinta-feira (2), dos óculos adquiridos há anos em uma barraca de camelô, sem nunca antes ter passado por um exame oftalmológico, menos ainda por um médico especialista.
“Quando vi uma dificuldade pra enxergar as letras da bíblia ou de algum documento, procurei aquelas lojas que têm óculos com grau já prontos. O rapaz disse pra eu ver uma letra que ficava melhor com os óculos. Aí comprei”, relata.
Naquele momento, isso era tudo que os recursos financeiros de Maria Tereza alcançavam. Em outubro deste ano, contudo, as preces dela foram ouvidas e os caminhões do Instituto Miguel Chamon estacionaram no Bairro Tropical, em Parauapebas, onde ela conseguiu atendimento médico gratuito e mais: recebeu o direito de escolher os próprios óculos, desta vez de qualidade.
Agora, foi a vez de receber o par escolhido durante ação realizada no Bairro Vila Rica, com a presença do deputado Chamonzinho, idealizador do Instituto Miguel Chamon, que apenas no município irá entregar quase cinco mil peças ao longo dos próximos dias.
“O único médico que passei foi esse (do Instituto) e a gente está recebendo esses óculos hoje. Fui bem atendida e se todas as pessoas que trabalham no setor público, ou mesmo numa clínica, trabalhassem da forma como me atenderam aqui, não haveria queixa de ninguém”, declarou.
Ela comemora não ter tido qualquer gasto para receber o benefício. “Pra consultar e pegar os óculos não gastei um real, foi tudo de graça. Pedi pra Deus, confiei, esperei e sobrou um homem na terra que Deus deixou para dar essa facilidade pra nós”.
Assim como ela, o vigilante Raimundo Vicente da Silva, de 63 anos, não estava usando o equipamento de correção visual ideal, isso porque os óculos antigos de pouco serviam e dinheiro não sobrava para a aquisição de um novo par.
“Eu trabalhava na prefeitura e fiz uns óculos porque lá tirava um dinheiro melhor, aí teve uma redução de vigia e não consegui mais fazer os óculos. Quando ouvi falar dessa ação no Tropical eu fui consultar, tirei as medidas dos óculos e fiz. Há três anos que eu estava sem óculos porque o que estou usando não presta mais”, conta.
Conforme ele, até esta data mal conseguia depositar uma assinatura em um documento quando necessário e ler era praticamente impossível. “Quando o doutor pediu pra ver o (óculos) que eu estava usando me disse que não prestava pra mais nada. Agora eu paguei nenhum centavo, nem 10 centavos, não paguei nada, e estou recebendo. É muito boa pra todo mundo essa ação”.
RESPONSABILIDADE SOCIAL
O deputado Chamonzinho, em discurso voltado às pessoas que foram receber os óculos, relembrou a trajetória do Instituto Miguel Chamon, que leva o nome do avô do parlamentar. “O meu coração se enche de gratidão toda vez que eu participo dessa entrega e das ações do instituto em saber que há 20 anos eu tive as benções divinas para me iluminarem em criar esse instrumento que pudesse ajudar as pessoas que mais precisam”, afirmou.
Ele diz sentir a responsabilidade, enquanto homem público, de cuidar de todos, mas fundamentalmente dos mais humildes e sem acesso às políticas públicas. “Daqueles que vão ao posto de saúde e não tem remédio, que vão procurar e não tem exame de ultrassom, que vão para o hospital e não são bem atendidos. Essas pessoas precisam de cuidado e de atenção”.
Apenas neste ano, acrescentou, as ações do instituto estiveram em quase 30 municípios paraenses, onde milhares de pessoas foram atendidas. Em Parauapebas, foram 17 dias percorrendo vários bairros. “A gente precisava chegar nos locais de mais difícil acesso, onde as pessoas mais humildes estão. É onde precisamos levar um atendimento médico, odontológico, exames de ultrassom e de vista”, diz.
O deputado ressalta que ao andar por Parauapebas, durante as ações, a equipe percebeu a carência da população por atendimento de saúde. “Encontramos mulher com seis meses de gravidez esperando ultrassom e sem saber o sexo do bebê, gente sem acesso ao dentista e só sabe a falta que um dentista faz quando se tem a dor de dente, só sabe a falta que os óculos fazem quando você precisa dele para escrever, para estudar, para ler a bíblia. Tem gente que não tem dinheiro para pagar a consulta, quem dirá comprar óculos de R$ 1000 ou R$ 1500 reais. Deveria ser uma política pública do município”, defende.
Nesta sexta-feira (2) a entrega continua, desta vez no Lago do Residencial Alto Bonito, para pessoas do local e do todo o complexo do Bairro Altamira que foram atendidas nos caminhões durante a ação de outubro. Os demais bairros contemplados receberão as entregas ao longo da próxima semana. (Luciana Marschall)
[gutenberg_post_blocks id=”125″]